sábado, 14 de julho de 2012

Um mundo erudito do “violista-caipira”


Nos estudos da morfologia da língua, existem os morfemas, que constituem partes das palavras: o radical, a vogal temática, as desinências e os afixos. Estes se “ramificam” em prefixo e sufixo. Uma pessoa comum, que não viva de língua portuguesa, poderia questionar o que significam essas palavras estranhas.
Esclarecendo-se, teria respostas como: o radical é o “fixo”, que remete ao significado essencial da palavra como, por exemplo, “menin-” em “menino”, “meninada”, “menininhas” leva o usuário da língua a pensar em crianças ou em algo relativo a elas.
Há muitas possibilidades de combinações de usos dos morfemas, e os resultados são surpreendentes. Mas, no cotidiano do brasileiro, os enriquecedores da língua são os afixos, ou seja, os “móveis”, os “não-fixos”, que são acrescidos antes e depois do radical. Com a fusão de “alfa” e “beta”, por exemplo, formamos “alfabeto” e, seguindo dessa nova palavra, podemos acrescentar afixos para termos “analfabeto”, analfabetismo”, “alfabetizado”.
Para designar profissões, os sufixos conferem mais ou menos prestígio a determinados profissionais. O sufixo “-eiro” separa algumas classes profissionais dos grupos constituídos de “-sta”, “-euta”, “-ólogo” e outros. Podemos conferir a segregação sócio-profissional que põe, de um lado, o ferreiro, o pedreiro, o carpinteiro, o marceneiro, o jornaleiro e, de outro, o jornalista, o dentista, o fisioterapeuta, o biólogo, o geólogo, o farmacêutico. O profissional de marketing não se identifica como “marketeiro”, mas como “mercadólogo”. Já a designação “engenheiro” foge à regra já que a classe alcançou reconhecimento singular na sociedade.
No campo artístico também se nota essa segregação de prestígios. Numa orquestra ou em outras áreas da música, por exemplo, temos o “violinista”, o “violista”, o “violoncelista”, o “contrabaixista”, o “trompetista”, o “trombonista”, o “tubista” e muitos outros “-istas”, como o “gaitista”, o “violonista”, o “baterista”, que não se confunde com o “percussionista”.
No universo da música popular, encontram-se músicos e dançarinos que lutam há séculos pela dignidade de sua arte: o violeiro, o catireiro, o fandangueiro, o batuqueiro, o cururueiro, o jongueiro, o congadeiro.
O que muitos não sabem é que existe um universo inesgotável de conhecimentos em cada segmento que envolve os artistas populares do Brasil. Alguns setores, porém, insistem em pôr à margem elementos desse mosaico, evidenciando que falta erudição aos que desprezam o mundo do “viola-caipirista” ou do “violista-caipira” se assim preferem chamar! 
(Fabius)

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