segunda-feira, 23 de julho de 2012

Criadores de galo de briga e diversidade


Há muitos anos, quando ainda não era crime, eram muito comuns as rinhas em que se punham galos para brigar. Sendo bem sincero, tive pouco contato com esse universo, porém nunca seria capaz de esquecer alguns detalhes dessas passagens que ficaram num passado que parece tão distante, como, por exemplo, os treinamentos dos galos. Estes, aliás, eram preparados como verdadeiros atletas de um “vale tudo” com destino fatal a todos. Os animais ficavam horas diárias fazendo “giro de oito”, um tipo de  “esteira” adaptada no meio das pernas do treinador (dono do galo e apostador),  “pulo”, que consistia em elevar o animal pelo peito para que desenvolvesse um “ kung fu” com esporadas.
Quando o galo se feria muito, era comum passar sebo de carneiro nos ferimentos que podiam ser intensos porque, embora houvesse esporas almofadadas para treinos (tipo luvas de boxe), havia também as de osso para disputas “amistosas” e, por fim, as de metal, usadas para as grandes batalhas mortais.
Ainda que muitos brilhem os olhos quando se fala dessa época, até porque existe um universo a ser esgotado sob olhares de antropólogos, sociólogos e historiadores, não falo disso com nenhuma nostalgia devido à enorme violência a que eram submetidos os galos índios, assim também chamados os donos dos quintais do interior nas casas em que se criavam galinhas como uma opção de fonte de proteínas: ovos todos os dias e, copiando Craveiro e Cravinho, “franguinho na panela” para ocasiões especiais.
Existem agrupamentos humanos muito estranhos como os de criadores de galos de briga, que consistem em campos inesgotáveis a serem explorados em pesquisas. De  caçadores de capivara a criadores de curiós, jogadores malha ou bocha, dançarinos de catira ou capoeiristas, cada um faz parte de uma realidade que envolve termos específicos, regras e grandes ícones.
Os agrupamentos que se vinculam a gêneros musicais formam clãs tão específicos com detalhes que se isolam como os criadores de galos de briga ou jogadores de malha. Não dá para falar simplesmente em samba ou rock, já que existem inúmeras ramificações desses estilos. Dizer que Iron Maiden, Ramones, Rage Agaist The Machine e The Beatles são ouvidos pelo mesmo público é difícil. Há, logicamente, aqueles ecléticos que são capazes de ouvir todos os tipos de música dizendo que só existem dois tipos: bonita e feia.
O importante é que exista espaço para veicular a diversidade, não só musical, mas também para todos os agrupamentos que não comprometam a liberdade e a vida de outros seres. Dispensemos agrupamentos de pedófilos e afins.
Quanto aos nossos ouvidos, poderíamos ter mais acesso a músicas que nos livrem dos gemidos que a indústria quer que ouçamos diariamente.
(Fabius)


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