Há
muitos anos, quando ainda não era crime, eram muito comuns as rinhas em que se
punham galos para brigar. Sendo bem sincero, tive pouco contato com esse
universo, porém nunca seria capaz de esquecer alguns detalhes dessas passagens
que ficaram num passado que parece tão distante, como, por exemplo, os
treinamentos dos galos. Estes, aliás, eram preparados como verdadeiros atletas
de um “vale tudo” com destino fatal a todos. Os animais ficavam horas diárias
fazendo “giro de oito”, um tipo de
“esteira” adaptada no meio das pernas do treinador (dono do galo e
apostador), “pulo”, que consistia em
elevar o animal pelo peito para que desenvolvesse um “ kung fu” com esporadas.
Quando o galo se feria
muito, era comum passar sebo de carneiro nos ferimentos que podiam ser intensos
porque, embora houvesse esporas almofadadas para treinos (tipo luvas de boxe),
havia também as de osso para disputas “amistosas” e, por fim, as de metal,
usadas para as grandes batalhas mortais.
Ainda que muitos
brilhem os olhos quando se fala dessa época, até porque existe um universo a
ser esgotado sob olhares de antropólogos, sociólogos e historiadores, não falo
disso com nenhuma nostalgia devido à enorme violência a que eram submetidos os
galos índios, assim também chamados os donos dos quintais do interior nas casas
em que se criavam galinhas como uma opção de fonte de proteínas: ovos todos os
dias e, copiando Craveiro e Cravinho, “franguinho na panela” para ocasiões
especiais.
Existem agrupamentos
humanos muito estranhos como os de criadores de galos de briga, que consistem
em campos inesgotáveis a serem explorados em pesquisas. De caçadores de capivara a criadores de curiós,
jogadores malha ou bocha, dançarinos de catira ou capoeiristas, cada um faz
parte de uma realidade que envolve termos específicos, regras e grandes ícones.
Os agrupamentos que se
vinculam a gêneros musicais formam clãs tão específicos com detalhes que se
isolam como os criadores de galos de briga ou jogadores de malha. Não dá para
falar simplesmente em samba ou rock, já que existem inúmeras ramificações
desses estilos. Dizer que Iron Maiden, Ramones, Rage Agaist The Machine e The
Beatles são ouvidos pelo mesmo público é difícil. Há, logicamente, aqueles
ecléticos que são capazes de ouvir todos os tipos de música dizendo que só existem dois tipos: bonita e feia.
O importante é que
exista espaço para veicular a diversidade, não só musical, mas também para
todos os agrupamentos que não comprometam a liberdade e a vida de outros seres.
Dispensemos agrupamentos de pedófilos e afins.
Quanto aos nossos
ouvidos, poderíamos ter mais acesso a músicas que nos livrem dos gemidos que a
indústria quer que ouçamos diariamente.
(Fabius)
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