É muito comum ouvirmos pessoas afirmando que RAP não
é música. Quem diz isso se justifica pela suposta “ausência de melodia”.
Primeiro
gostaria de chamar atenção à melodia que existe na própria fala. Quando falamos,
subimos e descemos tons, abrimos e fechamos timbres da voz. Não falamos como
robôs de forma monótona. Subimos tonalidade para perguntar e descemos para
afirmar. Esticamos as vogais para sermos enfáticos e ainda forçamos as
“explosões” oclusivas de certas consoantes para atingirmos efeitos de sentido
por meio da sonoridade.
Lembremos também que as músicas se constituem de
harmonias, melodias e ritmos variados. Para quem não sabe, RAP é uma sigla que
se forma da expressão “rhythm and poetry” (ritmo e poesia).
Assim, podemos afirmar que RAP é música
já que os arranjos dos rappers têm harmonias, ritmos e as melodias da fala por
meio dos quais a poesia se veicula para falar do cotidiano sob a ótica do
“gueto” dos manos.
Os Racionais MC’s, que têm grande
expressividade para um público formado por pessoas de diferentes níveis sociais
e intelectuais cantam com muito vigor o “negro drama” da “vida loka” em seus
álbuns.
Antes da geração de artistas contemporâneos
dos Racionais, há mais de década, Thaíde também já representava uma força do
movimento que redefine, por meio da arte,
a vida de muitos jovens que são atraídos à realidade do crime.
Esse movimento é o Hip Hop, que une a
arte gráfica nas paredes, a dança do B. Boy e a poesia do RAP no mundo todo. Há
manos em toda a América Latina, na Europa, na Ásia, na Oceania e, em todos os
lugares, a força da poesia negra e mestiça urbana se expande nas rádios
comunitárias digitais, nos centros de convivência, nas ruas.
Acredito em que o movimento tenha
atingido uma maturidade no Brasil de tal forma que já possa romper com os
moldes novaiorquinos que se associam à indumentária, ao vocabulário inglês que
designa não só o “B. Boy”, mas também o “MC”, o “freestylo” e outros elementos
do cotidiano dos jovens que se inspiram nos padrões americanos.
No Brasil, principalmente, por existirem
ricas fontes etnográficas e musicais, os jovens manos que querem expandir os
horizontes do HIP HOP, têm a obrigação de conhecer o gueto do “Tambu”, que
ritma o batuque de umbigada no triangulo Piracicaba, Tietê e Capivari. Assim
verão que, quando cantam o negro drama, a dona Anecide (de Capivari), o seu
Dado (de Piracicaba), o Bomba (de Tietê), Vanderlei Bastos, Antônio Jr.(Piracicaba)
e outros cantores e batuqueiros tiram o
fôlego de qualquer rapper do freestylo.
(Fabius)
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