segunda-feira, 16 de julho de 2012

Os parceiros do rio Feio


No final dos anos cinqüenta, o estudioso Antônio Cândido realizou uma pesquisa no município de Bofete, na região de Botucatu, acerca do modus vivendi de uma comunidade de “caipiras” (assim mesmo designada pelo acadêmico).
Intitulada de “Os parceiros do rio Bonito”, a tese aborda o sistema “rudimentar” em que vivem homens e mulheres com as dificuldades do cotidiano subsistente de trabalhadores que estabelecem sistemas de parceria de produção.
Tal estudo despertou olhares com outros vieses de outros pesquisadores sobre a região e sobre a caipirada do cururu de Conchas, Laranjal Paulista, Botucatu, Tietê, Piracicaba e outras sedes importantes de modalidades de uma cultura que singularmente se pode chamar de paulista.
Muito se conhece sobre a contribuição dos trovadores europeus para a formação de gerações refinadas de repentistas do cururu, como aborda o livro de Sergio Santa Rosa “Prosa de cantador”. É sabido que a arte europeia, com inúmeras modificações, chegou aos sertões da Serra do Gigante Deitado, onde se criam sacis na imaginação da criançada. O canturião Manezinho Moreira, de Conchas, fez espetaculares apresentações dessa modalidade de trova em teatros e universidades na França, as quais eram simultaneamente traduzidas aos literatos da Lutecia e eram automaticamente comparadas à arte de antigos trovadores.
Há um século, aproximadamente, avançou rumo ao oeste paulista, passando pela região dos cururueiros, as ferrovias Sorocabana e Noroeste, invadindo o território dos índios kaingang, também chamados de “coroados” por causa do corte de seus cabelos. Diante de tanta informação que circula nos meios digitais hoje em dia, é lamentável que os herdeiros das grandes fortunas ou das dívidas da paulistânia pouco conhecem sobre os antigos donos das terras que foram invadidas por ferroviários, cafeicultores, citricultores e canavieiros.
Os índios da etnia kaingang ficaram conhecidos pelo antigo SPI (Serviço de Proteção ao Índio) pela sua força e resistência por defenderem seu território com muita bravura até serem “convencidos” pela índia Vanuíre, kaingang “amansada”, vinda do Paraná e usada para que aceitassem o processo de pacificação e submissão. O rio mais freqüentado pelos coroados foi o Aguapeí, também conhecido por rio Feio. Nome, aliás, injusto a um dos rios mais limpos e belos que deságua no rio Paraná. 



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