No final dos anos cinqüenta, o
estudioso Antônio Cândido realizou uma pesquisa no município de Bofete, na
região de Botucatu, acerca do modus
vivendi de uma comunidade de “caipiras” (assim mesmo designada pelo
acadêmico).
Intitulada de “Os parceiros do rio
Bonito”, a tese aborda o sistema “rudimentar” em que vivem homens e mulheres
com as dificuldades do cotidiano subsistente de trabalhadores que estabelecem
sistemas de parceria de produção.
Tal estudo despertou olhares com
outros vieses de outros pesquisadores sobre a região e sobre a caipirada do
cururu de Conchas, Laranjal Paulista, Botucatu, Tietê, Piracicaba e outras
sedes importantes de modalidades de uma cultura que singularmente se pode
chamar de paulista.
Muito se conhece sobre a contribuição
dos trovadores europeus para a formação de gerações refinadas de repentistas do
cururu, como aborda o livro de Sergio Santa Rosa “Prosa de cantador”. É sabido
que a arte europeia, com inúmeras modificações, chegou aos sertões da Serra do
Gigante Deitado, onde se criam sacis na imaginação da criançada. O canturião
Manezinho Moreira, de Conchas, fez espetaculares apresentações dessa modalidade
de trova em teatros e universidades na França, as quais eram simultaneamente
traduzidas aos literatos da Lutecia e eram automaticamente comparadas à arte de
antigos trovadores.
Há um século, aproximadamente,
avançou rumo ao oeste paulista, passando pela região dos cururueiros, as
ferrovias Sorocabana e Noroeste, invadindo o território dos índios kaingang,
também chamados de “coroados” por causa do corte de seus cabelos. Diante de
tanta informação que circula nos meios digitais hoje em dia, é lamentável que os
herdeiros das grandes fortunas ou das dívidas da paulistânia pouco conhecem
sobre os antigos donos das terras que foram invadidas por ferroviários,
cafeicultores, citricultores e canavieiros.
Os índios da etnia kaingang ficaram conhecidos
pelo antigo SPI (Serviço de Proteção ao Índio) pela sua força e resistência por
defenderem seu território com muita bravura até serem “convencidos” pela índia
Vanuíre, kaingang “amansada”, vinda do Paraná e usada para que aceitassem o
processo de pacificação e submissão. O rio mais freqüentado pelos coroados foi
o Aguapeí, também conhecido por rio Feio. Nome, aliás, injusto a um dos rios
mais limpos e belos que deságua no rio Paraná.
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