quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Júlio Santin: o maior violeiro do Brasil

Em 2006, quando fui dar uma oficina de Etnomúsica Brasileira e Ideintidade Cultural em Votorantim (SP), num encontro chamado Violeira, tive a oportunidade de falar para um público seleto porque estava constituído de grandes nomes da cena musical ligada à viola. Conheci pessoalmente nomes que eu já acompanhava de longe e que passei a encontrar nos vários encontros que surgiriam dali. Destaco desse encontro o maior violeiro do Brasil, com seus mais de dois metros de altura: Júlio Santin.
Médico pediatra, nasceu na região da Alta Paulista, é um violeiro singular porque compõe e toca uma música que muita gente não tem mais a noção de que exista. A música paulista que dialoga com a fronteira com o Mato Grosso do Sul. O fato de Júlio Santin ser de Irapuru (SP) e ter estudado medicina em Campo Grande (MS) pode ter sido um dos grandes pilares na sua formação musical, mas sua apurada técnica de tocar escorregando os dedos horizontalmente no braço da viola para executar músicas dançantes dos antigos bailes caipiras é um diferencial que coloca esse artista em patamar diferenciado no rico quadro da diversidade da viola paulista.
À frente de um dos mais importantes encontros de violeiros do Brasil, o Caipirapuru, o médico violeiro toca ao lado de grandes artistas, como Marcos Azevedo, Levi Ramiro, Zeca Collares, Rainer Brito, Luciano Queiroz, Ivan Vilela, Rogério Gulin, Ricardo Vignini, Milton Araújo, Arnaldo Freitas, Índio Cachoeira, Pereira da Viola
e incontáveis outros nomes.
Num show do trio Tamoyo, em Salto (SP), tive a oportunidade de tocar com Júlio Santin em 2010, no festival Violas e Ponteios. Na ocasião, tocamos juntos uma música de sua autoria, chamada “Festa do milho”, de seu primeiro CD (“Sentimento matuto”), um rastapé que remete bem aos ritmos das festas rurais. Depois dessa experiência, Estivemos na mesma programação do Sesc Pompeia no projeto “Violas Paulistas” (2011), na edição do Violas e Ponteios em Santa Fé do Sul (SP) em 2011, no Encontro Nacional de Violeiros em São Paulo (2014) e na Feira Nacional da Reforma Agrária (2015), no Parque da Água Branca na Capital paulista também.
Não só pela elevada estatura, mas pelas inigualáveis qualidades, é sem dúvida, um gigante da viola.
                                                                                                                                                 (Fabius)



Júlio Santin- foto divulgação

Ricardo Vignini, o cineasta Reinaldo Volpato, Júlio Santin (centro) e Fabius na Feira Nacional da Reforma Agrária no Parque da Água Branca em 2015.

Arnaldo Freitas (esquerda), Fabius (de pé à esquerda), Júlio Santin (tocando à direita) e Índio Cachoeira (de pé á direta) na oficina Encontro de Luthiers no Sesc Pompeia (SP) em julho de 2016. (foto: Henrique Susuki)


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O mestre dos mestres

Já faz algum tempo, numa segunda edição do Festival Caipira de Jaú, de que eu era produtor parceiro da Secretaria de Cultura do município, tive experiências incríveis com os artistas populares que participaram do evento.
Havia uma rica agenda composta por artistas de grande expressão nessa cena, mas a minha alegria emergia nos momentos em que iria ocorrer a Missa Caipira do Nhô Chico, com toda a equipe, família, e o Juninho Caipira. Catireiros da região, como Zé Lourenço e Ari Freitas também arrasaram, mas o dia em que eu levei no meu carro a dupla Toninho e Paraná e os dois duelantes, Moacir Siqueira e Manezinho Moreira.
A dupla aqueceria o público com clássicos da música caipira e, no auge, chamaria os MCs rurais para cantar o desafio em trovas, acompanhado de viola e violão.
Passamos o dia lá num bairro rural chamado Pouso Alegre entre Jaú e Bariri. Era muita gente na plateia que daria naquela tarde para dizermos que a cultura do rodeio realmente engoliu a Cultura Caipira.
Já à noitinha, fizemos uma merenda e seguimos para Piracicaba pela estrada “dos fundos” da cidade. Peguei o celular e liguei para o Sergio Santa Rosa, em Botucatu, autor do maior registro sobre os canturiões do cururu e disse a ele que eu estava com uma carga da pesada no carro. Ele a maior festa, ,andou abraços  e nos despedimos depois de muitas alegrias rápidas. Alguns quilômetros à frente, já em Mineiros de Tietê, um cão do tamanho de um bezerro entrou na frente do carro e não pudemos poupá-lo de seu triste atropelamento.
Paramos em Dois Córregos e um mecânico nos deu um suporte para que pudéssemos seguir viagem.
Nas várias horas em que esperamos o conserto do radiador do veículo, falamos sobre as várias décadas de música, versos e cultura caipira. Mané Moreira disse que ficou vários anos longe do núcleo de Piracicaba enquanto morou no Paraná. Eu disse que, segundo Rui Tornese, Tião Carreiro desenvolveu o pagode de viola depois de uma viagem ao interior daquele estado. Manezinho me surpreendeu com a maior que já ouvi: “Tião Carreiro aprendeu tocar pagode de viola comigo. Foi quando ele esteve hospedado na minha casa que eu ensinei Tião Carreiro tocar pagode”.
Todos silenciaram durante muitos minutos. Ninguém confirmou nem desdisse o que afirmara. O carro ficou pronto e, na madrugada, chegamos à casa de Moacir Siqueira.
Sendo verdade ou não, pensei, é uma responsabilidade muito grande carregar um fardo desses. Mesmo sendo sincera, essa afirmação leva qualquer um a duvidar daquele que se apresenta como O MESTRE DOS MESTRES.
(Fabius)

Manezinho Moreira, Canutião e Violeiro do Cururu.

Moacir Siqueira: metralhadora de versos do Cururu.

Festival Caipira de Jaú (SP), 2010.

Sérgio Santa Rosa e Jonata Neto.
Santa Rosa é autor de "Prosa de Cantador", livro em que traça um longo trajeto do Cururu.
Tropa de elite do cururu: Moacir Siquera, Cido Garoto, Jonata Neto, Andinho, Carlos Caetano.





quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Gastronomia e fusões étnicas no Brasil


Em mais um ano de inexpressão de medalhas em Olimpíada, os brasileiros ainda têm um certo orgulho ao fazer menção à força do futebol que aqui se joga e que para o mundo se mostra nas Copas.  Quando se fala em música brasileira fora do país, também não há dúvida dos ricos e variados ritmos e estilos que o mundo conhece e identifica como elementos da musicalidade brasileira e suas ramificações tupiniquins, tupinambás, xavantes, bantas, iorubás, sudanesas, ibéricas, árabes, asiáticas.
Os elementos da culinária brasileira também têm marcas nítidas dessa mistura étnica que ocorre no cotidiano da brasilândia. A feijoada, por exemplo, sempre é mencionada equivocadamente nas escolas como contribuição africana à mesa do brasileiro. De fato, os feijões foram trazidos da África e, com eles, outros pratos em forma de caldos. Esquece-se, porém, que o arroz, que também compõe a feijoada, foi trazido do Oriente pelos portugueses e que a farofa é um prato que funde temperos e outros elementos opcionais à farinha, que é base da culinária indígena, fazendo da feijoada o prato mais famoso do Brasil no mundo porque é a cara desse país: miscigenado pelo tripé indígena, ibérico africano. Acrescentando as adjacências, a couve refogada e as laranjas dão um toque especial e, para quem gosta, a caipirinha completa o mosaico gastronômico.
Tive inesquecíveis aulas de geografia, que me ensinaram sobre clima, vegetação, relevo, hidrografia, população, produção de alimento, mas nunca houve uma amarração para dizer por que os churrascos gaúchos eram musicados pelos fandangos e por que essa manifestação do Sul tinha gaitas (concertinas ou sanfonas como conhecemos) e os fandangos da região de Sorocaba eram acompanhados de viola. Entender por que os gaúchos são os reis da picanha sempre foi fácil porque não foi difícil associar a produção bovina ao sul do país.
Já os mineiros foram muito cuidadosos em criar uma grife “de minas” ao associar o Estado às cachaças mais caras do mundo, aos distintos queijos que lá se produzem. Aliás, apropriaram-se de uma culinária caipira feita em São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Rio de Janeiro, que os restaurantes, hoje, estampam em banners como “comida mineira”.
Talvez porque Minas preserve uma ruralidade que São Paulo perdeu há décadas, desvinculando a culinária cotidiana do que se produz no campo, senão comeríamos rapadura com suco de laranja.
O estado de São Paulo, entretanto, agregou tantas outras culturas ao longo do século XX, que não é difícil encontrar pessoas as quais afirmam categoricamente que a capital paulista faz uma pizza melhor que a da Itália. É também notável que pipocam restaurantes japoneses em várias cidades, oferecendo o que há demais requintado na culinária nipônica. Vê-se que os elementos predominantes nas estufas de salgados das cantinas escolares são os quitutes árabes e que as crianças adoram hambúrgueres com fritas nos moldes americanos, acompanhados de coca-cola, sem dispensar os deliciosos refrigerantes caipiras, como a Itubaína de Rio das Pedras, o Guarany de Torrinha, o Dom de Ribeirão Preto, a Cotuba de Rio Preto. Os hambúrgueres, aliás, foram inventados pelos alemães de região de Hamburgo e chegaram ao Brasil na década de cinquenta.
Aos finais de semana, não há como negar que um elemento muito presente na mesa do brasileiro é o macarrão, inventado pelos orientais, molhado ao suco de tomate, inventado pelos italianos.
Quem quiser pode acrescentar pão francês com quase tudo, que fica bom.
Anualmente, muitas cidades organizam famosas Festas das Nações, e o elemento que indiscutivelmente leva multidões a esses eventos é a gastronomia, que se sobrepõe à música, às danças e, se tivesse, ao futebol, que perderia para as infinidades atrações gustativas que, na verdade, já estão quase diariamente na mesa tão fundida do brasileiro.
                                                                                            (Fabius)
(Feijoada: fusão de elementos num prato cheio de cores e sabores)

(Modelo gaúcho de servir churrasco)

(Das cantinas italianas de São Paulo às comunidades ítalo-caipiras: "macaronaaada")

(Comida caipira: apropriada como "comida mineira")






segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Submissão cultural


O acesso a informações e a produtos importados hoje é um fato que faz parte da realidade dos jovens brasileiros e da maioria dos países do mundo. O discurso da sociedade quando houve uma certa “democratização” dos meios digitais foi de que haveria interação cultural entre os povos, e isso tornaria o ser humano menos ignorante por entender diferenças culturais por ter acesso ao modus vivendi de países distantes. Acontece que não se buscam referências culturais da Venezuela ou da Guiana na internet. Não se procuram conhecimentos acerca do cotidiano angolano ou esloveno.
A internet é um instrumento de comunicação muito empregado no mundo todo sobretudo para estabelecer contato entre internautas, e isso é uma qualidade insuperável sobre outros meios, mas há um cuidado que se deve tomar quando se trata de uma fonte de pesquisa cultural.
Certa vez, eu voltava de Ribeirão Preto e parei num restaurante próximo a uma colônia de japoneses e descentes radicados ali há muitas décadas. Havia um jovem cabeludo dessa comunidade com uma camiseta preta estampando o nome de uma banda de rock. Não hesitei e, de cara, perguntei ao rapaz que instrumento ele tocava. Ele disse com decidida dicção: “GUITARRA”.
Perguntei que guitarra ele tinha, e ele respondeu possuir uma Ibanez. Então perguntei se ele gostava de Steve Vai, um endorser dessa marca, e ele emendou que também ouvia e tocava coisas de Joe Satriani, mestre de Vai e também anunciante dessa guitarra. Daí completamos esse assunto falando de amplificadores, equipamentos e timbres extraídos desse instrumento e do fácil acesso a informações sobre artistas e músicas que havia na internet.
Virei o rumo da conversa perguntando sobre as atividades culturais da colônia que se vinculavam às raízes nipônicas e sobre a relação que os jovens dali tinham com tais atividades. Ele estranhou minha pergunta e disse que não havia uma grande adesão espontânea dos jovens para participarem de Bon Odori e outros ritos. Falou que há uma boa parcela dos netos de japoneses que consideram “mico” aquilo tudo. Eu disse: “Que pena!”. Antes de me despedir, perguntei seu nome e ele disse também com boa entoação: “ISAQUE”, um bonito nome hebraico que chamou o filho de Abraão com Sara no Velho Testamento.
Saí dali pensando que aquele garoto tinha o perfil de uma boa parte da juventude brasileira. Descendente de imigrante e reconhece essa condição, mas não se sente mais vinculado às antigas tradições negando-as, assim como também se negam as raízes brasileiras quando se pensa em cultura.
Essa identidade cega com a cultura estadunidense, somada à negação da identidade cultural brasileira, pode comprometer toda uma geração de jovens, levando-os à total submissão cultural. É preciso reconhecer que não são mais japoneses, italianos, espanhóis ou árabes ortodoxos, mas que são jovens brasileiros e que precisam fortalecer suas bases culturais e mudar a cara do país com seus recursos. Sem dúvida, há muita coisa boa advinda dos Estados Unidos e de outros países, mas respirar só essa arte por meio da internet pode ser um risco.
(Fabius)


(Grandes tambores japoneses)

(Festa de Atibaia, cidade maravilhosa)

(Tambores do Bon Odori)



quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Três é demais


Entre as diferentes possibilidades de um grupo musical, a formação compacta dos trios é, de fato, desafiadora. Os trios buscam, com recursos mínimos, o máximo de sua musicalidade, ao contrário dos grandes agrupamentos de músicos, cujo exemplo máximo de sofisticação são as orquestras, nas quais atuam muitos instrumentistas em diferentes linhas harmônicas, melódicas e percussivas.
 Com uma linguagem simples, os pontos fortes dessa formação são a harmonia e o entrosamento existentes entre os integrantes, o que torna possível, muitas vezes, transformar o vácuo sonoro num recurso musical a ser valorizado e explorado.
A partir do início do século XX, quando o Trio Aurora abandonou o antigo rótulo de “Terceto” ao gravar o primeiro disco com a designação de “Trio”, muitos outros passaram a enriquecer a discoteca brasileira.
Nas últimas décadas, um exemplo de trio com grande impacto no contexto internacional é o grupo “The Police” que, na contramão de músicos e grupos de rock que surgiam nas décadas de 70 e 80 buscando técnicas virtuosas para tocar suas canções, passou a influenciar bandas no mundo todo ao apostar na simplicidade.
Esse formato continua a ser redescoberto e explorado e, no Brasil, vários deles se destacam entre diferentes origens e estilos, como o trio Curupira (jazz), o trio Tamoyo (etnomúsica brasileira), o Meretrio (jazz), o Chorando a Tempo (choro) e o internacional Krisium, que faz um death metal de arrepiar.
Ter espaço para duos, trios, quartetos, quintetos até as orquestras, passando por gêneros diferentes, é de extrema importância para o exercício da democracia musical em nosso país.
(Fabius)

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Experiência antropológica com o cururu paulista


Já faz algum tempo, estendendo-se num final de semana inteiro, ocorreu um grande evento na cidade de Votorantim, município vizinho de Sorocaba: a “IV Violeira”.
 Antigo distrito da capital regional, emancipou-se na década de sessenta e, hoje, independente, mantém tradições culturais extintas da antiga Sorocaba e que estiveram presentes na “IV Violeira”.
Foram reunidos, entre muitas atrações, os maiores violeiros do país. Tocaram na festa Ivan Vilela, Levi Ramiro, Julio Santin, Rainer Brito, Zeca Collares, Pereira da Viola, Julio Gulin, Milton Araújo e Trio Tamoyo para plateias militantes.
Em todos os dias do evento, ocorreram oficinas culturais, por meio das quais um público aprendeu passos de catira com membros do grupo Os Favoritos da Catira, além de oficinas sobre etnomúsica brasileira e identidade cultural, culinária caipira e muitas mesas redondas em que se sentaram acadêmicos, músicos e artistas do cinema com membros do fandango de Cananeia para discutirem “A contemporaneidade caipira”.
Tudo foi muito impressionante para quem esteve lá, mas não há como negar o choque de presenciar um desafio de cururu com os monstros da poesia caipira daquela região. Enfrentaram-se no repente paulista Cido Garoto, Dito Carrara e Andinho. Os dois primeiros têm a feição do que se espera, hoje, de um canturião do cururu. São maiores de cinqüenta anos e carregam expressões denunciadoras de que essa modalidade de repente paulista já viveu décadas melhores de sucesso. Andinho, porém, surpreende qualquer antropólogo que estuda as manifestações caipiras sob a perspectiva de que vivem uma decadência rumo à extinção. Esse repentista é jovem, tem expressivas tatuagens nos dois braços e um piercing de argola no nariz. Quando abriu a boca para cantar na tarde do sábado do evento, mandou petardos de esquartejar seus desafiados mais experientes. Entre os MCs do cururu, destacava-se Carlos Caetano, violeiro que os acompanha na maioria dos desafios de travas.
O denso público reconhecia como familiares os elementos presentes naquele embate de trovas: não só os cururueiros e seus músicos acompanhantes, mas também a feira de mulas, muito usadas nas antigas tropas de Sorocaba, as costelas assadas em fogo de chão na queima do alho e todas as duplas caipiras que aguardavam com alegria o momento de apresentação das “pratas da casa”.
Qualquer alheio a essa cultura diria, certamente, que seria uma interessante experiência antropológica participar de uma festa que mantém uma força assustadora no exercício da cultura popular paulista caipira numa região metropolitana a quarenta minutos da capital de São Paulo.
Esses elementos todos, reunidos nessa festa, evidenciam claramente origens e  rumos dos trilhos de nossa cultura. 
(Fabius)
Andinho, canturião do Cururu de Sorocaba

Rogério Gulin na Violeira de Votorantim

Tropa de mulas rumo à feira 



segunda-feira, 30 de julho de 2012

SWU e a divisão da juventude brasileira


Nos últimos dois anos, ressaltaram-se alguns festivais de rock no país, mas o SWU, devido à proposta de “ecologicamente sustentável” e ao peso da publicidade se destacou entre os demais. Todos esses encontros ficaram marcados por inúmeros fatos gerados pelas comissões organizadoras, que, na maioria dos casos, não estavam preparadas para receber tanta gente..
Algo de interessante, porém, ressalta-se diante de imperfeições ocorridas e muito divulgadas pela mídia após cada evento. Não há como desprezar as multidões presentes nesses festivais, vindas de todo o país e de outras partes do mundo para o interior paulista.
As aproximadamente 50 mil pessoas que estavam na fazenda Maeda, por exemplo, ouvindo Rage Against The Machine não viam clipes da banda na MTV, não ouviam suas “canções-porrada” em trilhas sonoras de novelas, salvo a trilha de “Matrix” no cinema.
Em outras palavras, os jovens e adultos que estavam presentes nos eventos não estavam ali por um modismo ditado pela onda de nomes divulgados, por exemplo, no circuito de rodeios ou nas grandes festas do agronegócio, como as que acontecem na região de Ribeirão Preto nas quais se vendem produtos que atendam às necessidades de agricultores e pecuaristas. Numa feira, como a Agrishow, acontecem inúmeros shows de duplas do cenário denominado “sertanejo universitário”.
Enquanto o setor cultural dessas feiras privilegia o gênero musical mais querido pelo freqüentador e se afina com seu público com as gigantes estruturas em que se apresentam as duplas sertanejas mais famosas do Brasil, na versão de Itu, o festival SWU levou, entre outras várias, uma banda cujo guitarrista dedicou uma das canções aos “irmãos do MST”.
Sem partidarismo e ideologias vinculadas a qualquer uma dessas partes, isto é, ao setor que se associa ao agronegócio ou aos “irmãos do MST”, é importante que os promotores de cultura do país vejam que existem pessoas que querem mais opções culturais e não aceitam a ditadura de gêneros culturais oferecidos “goela abaixo” por alguns canais de televisão.
A juventude sempre está dividida, portanto faltam festivais de música em relação à enorme quantidade de festas de peão!
(Fabius)

(Zack de la Rocha, vocalista do Rage Against the Machine)



(Tom Morello, guitarrista com adesivo do Sendero Luminoso)


(Homenagem ao MST)