Em mais um ano de inexpressão de medalhas em Olimpíada, os brasileiros ainda têm um certo orgulho ao fazer menção à força do futebol que aqui se joga e que para o
mundo se mostra nas Copas. Quando se fala em música brasileira fora do país,
também não há dúvida dos ricos e variados ritmos e estilos que o
mundo conhece e identifica como elementos da musicalidade brasileira
e suas ramificações tupiniquins, tupinambás, xavantes, bantas,
iorubás, sudanesas, ibéricas, árabes, asiáticas.
Os
elementos da culinária brasileira também têm marcas nítidas dessa
mistura étnica que ocorre no cotidiano da brasilândia. A feijoada,
por exemplo, sempre é mencionada equivocadamente nas escolas como
contribuição africana à mesa do brasileiro. De fato, os feijões
foram trazidos da África e, com eles, outros pratos em forma de
caldos. Esquece-se, porém, que o arroz, que também compõe a
feijoada, foi trazido do Oriente pelos portugueses e que a farofa é
um prato que funde temperos e outros elementos opcionais à farinha,
que é base da culinária indígena, fazendo da feijoada o prato
mais famoso do Brasil no mundo porque é a cara desse país:
miscigenado pelo tripé indígena, ibérico africano. Acrescentando
as adjacências, a couve refogada e as laranjas dão um toque
especial e, para quem gosta, a caipirinha completa o mosaico
gastronômico.
Tive
inesquecíveis aulas de geografia, que me ensinaram sobre clima,
vegetação, relevo, hidrografia, população, produção de
alimento, mas nunca houve uma amarração para dizer por que os
churrascos gaúchos eram musicados pelos fandangos e por que essa manifestação do Sul tinha gaitas (concertinas ou sanfonas como
conhecemos) e os fandangos da região de Sorocaba eram acompanhados
de viola. Entender por que os gaúchos são os reis da picanha sempre
foi fácil porque não foi difícil associar a produção bovina ao
sul do país.
Já
os mineiros foram muito cuidadosos em criar uma grife “de minas”
ao associar o Estado às cachaças mais caras do mundo, aos distintos
queijos que lá se produzem. Aliás, apropriaram-se de uma culinária
caipira feita em São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Goiás, Tocantins e Rio de Janeiro, que os restaurantes, hoje,
estampam em banners como “comida mineira”.
Talvez
porque Minas preserve uma ruralidade que São Paulo perdeu há
décadas, desvinculando a culinária cotidiana do que se produz no
campo, senão comeríamos rapadura com suco de laranja.
O
estado de São Paulo, entretanto, agregou tantas outras culturas ao
longo do século XX, que não é difícil encontrar pessoas as quais
afirmam categoricamente que a capital paulista faz uma pizza melhor
que a da Itália. É também notável que pipocam restaurantes
japoneses em várias cidades, oferecendo o que há demais requintado
na culinária nipônica. Vê-se que os elementos predominantes nas
estufas de salgados das cantinas escolares são os quitutes árabes e
que as crianças adoram hambúrgueres com fritas nos moldes
americanos, acompanhados de coca-cola, sem dispensar os deliciosos
refrigerantes caipiras, como a Itubaína de Rio das Pedras, o Guarany
de Torrinha, o Dom de Ribeirão Preto, a Cotuba de Rio Preto. Os
hambúrgueres, aliás, foram inventados pelos alemães de região de
Hamburgo e chegaram ao Brasil na década de cinquenta.
Aos
finais de semana, não há como negar que um elemento muito presente
na mesa do brasileiro é o macarrão, inventado pelos orientais,
molhado ao suco de tomate, inventado pelos italianos.
Quem
quiser pode acrescentar pão francês com quase tudo, que fica bom.
Anualmente,
muitas cidades organizam famosas Festas das Nações, e o elemento que
indiscutivelmente leva multidões a esses eventos é a gastronomia, que se sobrepõe
à música, às danças e, se tivesse, ao futebol, que perderia para
as infinidades atrações gustativas que, na verdade, já estão
quase diariamente na mesa tão fundida do brasileiro.
(Fabius)
(Feijoada: fusão de elementos num prato cheio de cores e sabores)
(Modelo gaúcho de servir churrasco)
(Das cantinas italianas de São Paulo às comunidades ítalo-caipiras: "macaronaaada")
(Comida caipira: apropriada como "comida mineira")
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