segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Submissão cultural


O acesso a informações e a produtos importados hoje é um fato que faz parte da realidade dos jovens brasileiros e da maioria dos países do mundo. O discurso da sociedade quando houve uma certa “democratização” dos meios digitais foi de que haveria interação cultural entre os povos, e isso tornaria o ser humano menos ignorante por entender diferenças culturais por ter acesso ao modus vivendi de países distantes. Acontece que não se buscam referências culturais da Venezuela ou da Guiana na internet. Não se procuram conhecimentos acerca do cotidiano angolano ou esloveno.
A internet é um instrumento de comunicação muito empregado no mundo todo sobretudo para estabelecer contato entre internautas, e isso é uma qualidade insuperável sobre outros meios, mas há um cuidado que se deve tomar quando se trata de uma fonte de pesquisa cultural.
Certa vez, eu voltava de Ribeirão Preto e parei num restaurante próximo a uma colônia de japoneses e descentes radicados ali há muitas décadas. Havia um jovem cabeludo dessa comunidade com uma camiseta preta estampando o nome de uma banda de rock. Não hesitei e, de cara, perguntei ao rapaz que instrumento ele tocava. Ele disse com decidida dicção: “GUITARRA”.
Perguntei que guitarra ele tinha, e ele respondeu possuir uma Ibanez. Então perguntei se ele gostava de Steve Vai, um endorser dessa marca, e ele emendou que também ouvia e tocava coisas de Joe Satriani, mestre de Vai e também anunciante dessa guitarra. Daí completamos esse assunto falando de amplificadores, equipamentos e timbres extraídos desse instrumento e do fácil acesso a informações sobre artistas e músicas que havia na internet.
Virei o rumo da conversa perguntando sobre as atividades culturais da colônia que se vinculavam às raízes nipônicas e sobre a relação que os jovens dali tinham com tais atividades. Ele estranhou minha pergunta e disse que não havia uma grande adesão espontânea dos jovens para participarem de Bon Odori e outros ritos. Falou que há uma boa parcela dos netos de japoneses que consideram “mico” aquilo tudo. Eu disse: “Que pena!”. Antes de me despedir, perguntei seu nome e ele disse também com boa entoação: “ISAQUE”, um bonito nome hebraico que chamou o filho de Abraão com Sara no Velho Testamento.
Saí dali pensando que aquele garoto tinha o perfil de uma boa parte da juventude brasileira. Descendente de imigrante e reconhece essa condição, mas não se sente mais vinculado às antigas tradições negando-as, assim como também se negam as raízes brasileiras quando se pensa em cultura.
Essa identidade cega com a cultura estadunidense, somada à negação da identidade cultural brasileira, pode comprometer toda uma geração de jovens, levando-os à total submissão cultural. É preciso reconhecer que não são mais japoneses, italianos, espanhóis ou árabes ortodoxos, mas que são jovens brasileiros e que precisam fortalecer suas bases culturais e mudar a cara do país com seus recursos. Sem dúvida, há muita coisa boa advinda dos Estados Unidos e de outros países, mas respirar só essa arte por meio da internet pode ser um risco.
(Fabius)


(Grandes tambores japoneses)

(Festa de Atibaia, cidade maravilhosa)

(Tambores do Bon Odori)



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