O acesso a informações e a produtos
importados hoje é um fato que faz parte da realidade dos jovens brasileiros e
da maioria dos países do mundo. O discurso da sociedade quando houve uma certa
“democratização” dos meios digitais foi de que haveria interação cultural entre
os povos, e isso tornaria o ser humano menos ignorante por entender diferenças
culturais por ter acesso ao modus vivendi
de países distantes. Acontece que não se buscam referências culturais da
Venezuela ou da Guiana na internet. Não se procuram conhecimentos acerca do
cotidiano angolano ou esloveno.
A internet é um instrumento de
comunicação muito empregado no mundo todo sobretudo para estabelecer contato
entre internautas, e isso é uma qualidade insuperável sobre outros meios, mas
há um cuidado que se deve tomar quando se trata de uma fonte de pesquisa
cultural.
Certa vez, eu voltava de Ribeirão
Preto e parei num restaurante próximo a uma colônia de japoneses e descentes
radicados ali há muitas décadas. Havia um jovem cabeludo dessa comunidade com
uma camiseta preta estampando o nome de uma banda de rock. Não hesitei e, de
cara, perguntei ao rapaz que instrumento ele tocava. Ele disse com decidida
dicção: “GUITARRA”.
Perguntei que guitarra ele tinha, e
ele respondeu possuir uma Ibanez. Então perguntei se ele gostava de Steve Vai,
um endorser dessa marca, e ele
emendou que também ouvia e tocava coisas de Joe Satriani, mestre de Vai e
também anunciante dessa guitarra. Daí completamos esse assunto falando de
amplificadores, equipamentos e timbres extraídos desse instrumento e do fácil
acesso a informações sobre artistas e músicas que havia na internet.
Virei o rumo da conversa perguntando
sobre as atividades culturais da colônia que se vinculavam às raízes nipônicas
e sobre a relação que os jovens dali tinham com tais atividades. Ele estranhou
minha pergunta e disse que não havia uma grande adesão espontânea dos jovens
para participarem de Bon Odori e
outros ritos. Falou que há uma boa parcela dos netos de japoneses que
consideram “mico” aquilo tudo. Eu disse: “Que pena!”. Antes de me despedir,
perguntei seu nome e ele disse também com boa entoação: “ISAQUE”, um bonito
nome hebraico que chamou o filho de Abraão com Sara no Velho Testamento.
Saí dali pensando que aquele garoto tinha
o perfil de uma boa parte da juventude brasileira. Descendente de imigrante e
reconhece essa condição, mas não se sente mais vinculado às antigas tradições
negando-as, assim como também se negam as raízes brasileiras quando se pensa em
cultura.
Essa identidade cega com a cultura
estadunidense, somada à negação da identidade cultural brasileira, pode
comprometer toda uma geração de jovens, levando-os à total submissão cultural.
É preciso reconhecer que não são mais japoneses, italianos, espanhóis ou árabes
ortodoxos, mas que são jovens brasileiros e que precisam fortalecer suas bases
culturais e mudar a cara do país com seus recursos. Sem dúvida, há muita coisa
boa advinda dos Estados Unidos e de outros países, mas respirar só essa arte
por meio da internet pode ser um risco.
(Fabius)
(Grandes tambores japoneses)
(Festa de Atibaia, cidade maravilhosa)
(Tambores do Bon Odori)
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