Já faz algum
tempo, estendendo-se num final de semana inteiro, ocorreu um grande evento na cidade
de Votorantim, município vizinho de Sorocaba: a “IV Violeira”.
Antigo distrito da capital regional,
emancipou-se na década de sessenta e, hoje, independente, mantém tradições
culturais extintas da antiga Sorocaba e que estiveram presentes na “IV Violeira”.
Foram reunidos,
entre muitas atrações, os maiores violeiros do país. Tocaram na festa Ivan
Vilela, Levi Ramiro, Julio Santin, Rainer Brito, Zeca Collares, Pereira da Viola,
Julio Gulin, Milton Araújo e Trio Tamoyo para plateias militantes.
Em todos os dias
do evento, ocorreram oficinas culturais, por meio das quais um público aprendeu
passos de catira com membros do grupo Os Favoritos da Catira, além de oficinas
sobre etnomúsica brasileira e identidade cultural, culinária caipira e muitas
mesas redondas em que se sentaram acadêmicos, músicos e artistas do cinema com
membros do fandango de Cananeia para discutirem “A contemporaneidade caipira”.
Tudo foi muito
impressionante para quem esteve lá, mas não há como negar o choque de
presenciar um desafio de cururu com os monstros da poesia caipira daquela
região. Enfrentaram-se no repente paulista Cido Garoto, Dito Carrara e Andinho. Os dois primeiros
têm a feição do que se espera, hoje, de um canturião do cururu. São maiores de
cinqüenta anos e carregam expressões denunciadoras de que essa modalidade de
repente paulista já viveu décadas melhores de sucesso. Andinho, porém,
surpreende qualquer antropólogo que estuda as manifestações caipiras sob a
perspectiva de que vivem uma decadência rumo à extinção. Esse repentista é
jovem, tem expressivas tatuagens nos dois braços e um piercing de argola no
nariz. Quando abriu a boca para cantar na tarde do sábado do evento, mandou
petardos de esquartejar seus desafiados mais experientes. Entre os MCs do
cururu, destacava-se Carlos Caetano, violeiro que os acompanha na maioria dos
desafios de travas.
O denso público
reconhecia como familiares os elementos presentes naquele embate de trovas: não
só os cururueiros e seus músicos acompanhantes, mas também a feira de mulas,
muito usadas nas antigas tropas de Sorocaba, as costelas assadas em fogo de
chão na queima do alho e todas as duplas caipiras que aguardavam com alegria o
momento de apresentação das “pratas da casa”.
Qualquer alheio
a essa cultura diria, certamente, que seria uma interessante experiência
antropológica participar de uma festa que mantém uma força assustadora no
exercício da cultura popular paulista caipira numa região metropolitana a
quarenta minutos da capital de São Paulo.
Esses elementos
todos, reunidos nessa festa, evidenciam claramente origens e rumos dos trilhos de nossa cultura.
(Fabius)
Andinho, canturião do Cururu de Sorocaba
Rogério Gulin na Violeira de Votorantim
Tropa de mulas rumo à feira
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