quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Experiência antropológica com o cururu paulista


Já faz algum tempo, estendendo-se num final de semana inteiro, ocorreu um grande evento na cidade de Votorantim, município vizinho de Sorocaba: a “IV Violeira”.
 Antigo distrito da capital regional, emancipou-se na década de sessenta e, hoje, independente, mantém tradições culturais extintas da antiga Sorocaba e que estiveram presentes na “IV Violeira”.
Foram reunidos, entre muitas atrações, os maiores violeiros do país. Tocaram na festa Ivan Vilela, Levi Ramiro, Julio Santin, Rainer Brito, Zeca Collares, Pereira da Viola, Julio Gulin, Milton Araújo e Trio Tamoyo para plateias militantes.
Em todos os dias do evento, ocorreram oficinas culturais, por meio das quais um público aprendeu passos de catira com membros do grupo Os Favoritos da Catira, além de oficinas sobre etnomúsica brasileira e identidade cultural, culinária caipira e muitas mesas redondas em que se sentaram acadêmicos, músicos e artistas do cinema com membros do fandango de Cananeia para discutirem “A contemporaneidade caipira”.
Tudo foi muito impressionante para quem esteve lá, mas não há como negar o choque de presenciar um desafio de cururu com os monstros da poesia caipira daquela região. Enfrentaram-se no repente paulista Cido Garoto, Dito Carrara e Andinho. Os dois primeiros têm a feição do que se espera, hoje, de um canturião do cururu. São maiores de cinqüenta anos e carregam expressões denunciadoras de que essa modalidade de repente paulista já viveu décadas melhores de sucesso. Andinho, porém, surpreende qualquer antropólogo que estuda as manifestações caipiras sob a perspectiva de que vivem uma decadência rumo à extinção. Esse repentista é jovem, tem expressivas tatuagens nos dois braços e um piercing de argola no nariz. Quando abriu a boca para cantar na tarde do sábado do evento, mandou petardos de esquartejar seus desafiados mais experientes. Entre os MCs do cururu, destacava-se Carlos Caetano, violeiro que os acompanha na maioria dos desafios de travas.
O denso público reconhecia como familiares os elementos presentes naquele embate de trovas: não só os cururueiros e seus músicos acompanhantes, mas também a feira de mulas, muito usadas nas antigas tropas de Sorocaba, as costelas assadas em fogo de chão na queima do alho e todas as duplas caipiras que aguardavam com alegria o momento de apresentação das “pratas da casa”.
Qualquer alheio a essa cultura diria, certamente, que seria uma interessante experiência antropológica participar de uma festa que mantém uma força assustadora no exercício da cultura popular paulista caipira numa região metropolitana a quarenta minutos da capital de São Paulo.
Esses elementos todos, reunidos nessa festa, evidenciam claramente origens e  rumos dos trilhos de nossa cultura. 
(Fabius)
Andinho, canturião do Cururu de Sorocaba

Rogério Gulin na Violeira de Votorantim

Tropa de mulas rumo à feira 



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