O cenário musical
brasileiro está comprometido com o mercado há décadas. Durante muitos anos,
músicos se apresentaram ao vivo nos programas de rádio consagrados em horários
“nobres” numa época em que este era o único veículo de comunicação de massa.
Depois de quinze anos de existência, a televisão redefiniria os rumos da música
no Brasil com os festivais de MPB, como o da TV Excelsior, realizado em 1965 no
Guarujá, que divulgaria ao grande público nomes como de Elis Regina, Edu Lobo,
Baden Powell, Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Tom Zé, Gilberto Gil, Milton
Nascimento, Mutantes, Geraldo Vandré, Chico Buarque, entre tantos nomes já
consagrados na comunidade de artistas do eixo Rio - São Paulo.
Muito além das
premiações, os festivais tiveram o papel de estabelecer vínculos entre artistas
e gravadoras, abrindo também o espaço para canções que tratavam de temas não só
amorosos, mas também sociais e políticos, num período de intervenção militar,
na transição do governo de Costa e Silva para os “anos negros” de Médici. Por
essa razão, a maioria dos compositores que abordaram em suas canções críticas à
linha ditatorial dos militares tiveram problemas com o governo.
Os grandes festivais de
MPB aconteceram até o início da década de 1970 e depois houve uma retomada pela rede Globo em 1985, com Tetê Espíndola
como a grande vencedora com “Escrito nas estrelas”. Esse evento também divulgou
nomes como o da vencedora, além de Oswaldo Montenegro, Luís Wagner, Emílio
Santiago, Leila Pinheiro e o grupo
infantil, Trem da Alegria.
A TV Cultura, em 2005,
promoveu um festival bastante concorrido do qual Danilo Moraes foi o ganhador .
Esse resultado, na época, foi bastante polêmico porque Vandi Daratioto,
apresentador do festival, era o pai do vencedor.
No interior paulista e
sul de Minas Gerais, a EPTV, vinculada à rede Globo, tem realizado nos últimos
anos o festival “Viola de Todos os Cantos”, ligado à sonoridade das
manifestações musicais de raiz. Assim mantém duas modalidades para os
concorrentes: “música raiz” e “música regional”. Em todas as suas edições, esse
evento tem arrebanhado multidões para ouvir canções desconhecidas.
Paralelamente aos
festivais apresentados pelas televisões, muitas cidades do interior do Brasil
têm mantido grandes programas nos moldes dos festivais que criaram um circuito
veiculador de músicas instrumentais e de grandes canções e que também têm
mantido destacados nomes desses eventos.
Na cidade de Avaré, por
exemplo, no interior paulista, há mais de vinte anos tem acontecido as
sucessivas edições da FAMPOP (Feira Avareense de Música Popular). Deste
participaram outros artistas representantes de uma geração mais jovem de
músicos em relação à geração dos primeiros festivais. Nesses eventos a plateia
tem acompanhado espetáculos de Milton Nascimento, Ivan Lins, Toninho Horta,
Lenine, Ed Motta, Titãs e muitos outros.
Nessa mesma linha, as
cidades paulistas de Ilha Solteira, Tatuí, Pereira Barreto, além de Paranavaí,
Porto de Trombetas, no Pará e vários outros têm acontecido.
A grande maioria dos
festivais de música que ocorrem no país tem como vitrine o site
www.festivaisdobrasil.com.br , mantido pelo músico, também participante de
festivais, Sérgio Augusto. Por esse portal virtual, os pretendentes a concorrer
em qualquer evento desse perfil têm acesso a fichas de inscrição e informações
sobre datas e premiações.
Em Botucatu, ocorrem
anualmente o Botucanto, festival que começou modesto em 2003 e que recebe
aproximadamente vinte mil pessoas em cinco dias: um em que concorre disputa
entre os músicos da própria cidade, um
para músicas instrumentais, dois dias para eliminatórias dos músicos de várias
partes do Brasil e, por fim, a grande final. São destinados generosos prêmios para
os grandes vencedores.
O mais importante papel
desses festivais todos é dar espaço às mais belas canções que não tocam nas
rádios e, muito menos, em novelas. Eles têm funcionado como veiculadores das
obras compostas pelos autores da verdadeira música popular brasileira,
destituídas das cobranças do mercado, das gravadoras e do “jabá”.
(Fabius)
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