terça-feira, 24 de julho de 2012

Festivais veiculam músicas “marginais”


O cenário musical brasileiro está comprometido com o mercado há décadas. Durante muitos anos, músicos se apresentaram ao vivo nos programas de rádio consagrados em horários “nobres” numa época em que este era o único veículo de comunicação de massa. Depois de quinze anos de existência, a televisão redefiniria os rumos da música no Brasil com os festivais de MPB, como o da TV Excelsior, realizado em 1965 no Guarujá, que divulgaria ao grande público nomes como de Elis Regina, Edu Lobo, Baden Powell, Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Tom Zé, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Mutantes, Geraldo Vandré, Chico Buarque, entre tantos nomes já consagrados na comunidade de artistas do eixo Rio - São Paulo.
Muito além das premiações, os festivais tiveram o papel de estabelecer vínculos entre artistas e gravadoras, abrindo também o espaço para canções que tratavam de temas não só amorosos, mas também sociais e políticos, num período de intervenção militar, na transição do governo de Costa e Silva para os “anos negros” de Médici. Por essa razão, a maioria dos compositores que abordaram em suas canções críticas à linha ditatorial dos militares tiveram problemas com o governo.
Os grandes festivais de MPB aconteceram até o início da década de 1970 e depois houve uma  retomada pela rede Globo em 1985, com Tetê Espíndola como a grande vencedora com “Escrito nas estrelas”. Esse evento também divulgou nomes como o da vencedora, além de Oswaldo Montenegro, Luís Wagner, Emílio Santiago, Leila Pinheiro  e o grupo infantil, Trem da Alegria.
A TV Cultura, em 2005, promoveu um festival bastante concorrido do qual Danilo Moraes foi o ganhador . Esse resultado, na época, foi bastante polêmico porque Vandi Daratioto, apresentador do festival, era o pai do vencedor.
No interior paulista e sul de Minas Gerais, a EPTV, vinculada à rede Globo, tem realizado nos últimos anos o festival “Viola de Todos os Cantos”, ligado à sonoridade das manifestações musicais de raiz. Assim mantém duas modalidades para os concorrentes: “música raiz” e “música regional”. Em todas as suas edições, esse evento tem arrebanhado multidões para ouvir canções desconhecidas.
Paralelamente aos festivais apresentados pelas televisões, muitas cidades do interior do Brasil têm mantido grandes programas nos moldes dos festivais que criaram um circuito veiculador de músicas instrumentais e de grandes canções e que também têm mantido destacados nomes desses eventos.
Na cidade de Avaré, por exemplo, no interior paulista, há mais de vinte anos tem acontecido as sucessivas edições da FAMPOP (Feira Avareense de Música Popular). Deste participaram outros artistas representantes de uma geração mais jovem de músicos em relação à geração dos primeiros festivais. Nesses eventos a plateia tem acompanhado espetáculos de Milton Nascimento, Ivan Lins, Toninho Horta, Lenine, Ed Motta, Titãs e muitos outros.
Nessa mesma linha, as cidades paulistas de Ilha Solteira, Tatuí, Pereira Barreto, além de Paranavaí, Porto de Trombetas, no Pará e vários outros têm acontecido.
A grande maioria dos festivais de música que ocorrem no país tem como vitrine o site www.festivaisdobrasil.com.br , mantido pelo músico, também participante de festivais, Sérgio Augusto. Por esse portal virtual, os pretendentes a concorrer em qualquer evento desse perfil têm acesso a fichas de inscrição e informações sobre datas e premiações.
Em Botucatu, ocorrem anualmente o Botucanto, festival que começou modesto em 2003 e que recebe aproximadamente vinte mil pessoas em cinco dias: um em que concorre disputa entre  os músicos da própria cidade, um para músicas instrumentais, dois dias para eliminatórias dos músicos de várias partes do Brasil e, por fim, a grande final. São destinados generosos prêmios para os grandes vencedores.
O mais importante papel desses festivais todos é dar espaço às mais belas canções que não tocam nas rádios e, muito menos, em novelas. Eles têm funcionado como veiculadores das obras compostas pelos autores da verdadeira música popular brasileira, destituídas das cobranças do mercado, das gravadoras e do “jabá”.
(Fabius)

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