Quando
comecei a estudar viola caipira, há alguns anos, comprei um instrumento usado confeccionado por uma indústria
localizada no interior estado de São
Paulo. Era um bom instrumento para um iniciante, mas o artesão Kléber Silveira,
de Avaré, encantou-me com um modelo pequeno de viola, que ele chamava de
catireira. Aos poucos, fui conhecendo
outros modelos do próprio Kléber, o que me levou a descortinar um universo
maravilhoso de sonoridades e concepções históricas sobre esse instrumento que
está no país desde o século XVI.
Na
busca de instrumentos que emitissem sons diferentes, nos últimos anos, tenho
feito um mapeamento de artesãos, fabricantes de viola caipira, no estado de São
Paulo e tenho ficado surpreso com alguns trabalhos.
No
médio Tietê, no município de Pirajuí, tive a oportunidade de conhecer o grande
violeiro e artesão Levi Ramiro. Sem dúvida, faz violas convencionais de
elevadíssima qualidade, mas não há quem não se espante com a qualidade de suas
violas de cabaça.
Subindo
o mesmo rio, rumo a Botucatu, encontramos os instrumentos do Soler, as violas
de Seu Pedro e, recentemente, apresentou-se à comunidade de violeiros o jovem
João Luthier, com suas violas requintadíssimas.
Rio
acima, chegando a Tatuí, encontra-se o famoso Joacir, antes sediado em São José
do Rio Preto, fabrica as violas mais caras do estado de São Paulo. Um
instrumento dele, que demora até seis meses para ser entregue sob encomenda,
ultrapassa a casa dos três mil reais.
Seu
vizinho, na região de Sorocaba, o luthier Sforcin também não fica atrás no que
diz respeito a preço e qualidade. Aliás, Sorocaba é um dos mais importantes
pilares da cultura que se vincula a esse instrumento.
As
violas Mater, de Amparo, fazem muito sucesso entre os violeiros de Piracicaba
graças ao incentivo de lojistas ou de professores, como Rafael Danelon, mas,
nessa região, há muita coisa boa de fabricantes de Iracemápolis, Americana e
até mesmo Campinas, que é uma cidade
grande, mas mantém vínculos com a cultura rural.
Mais
ao sul do estado, em Assis, há um jovem luthier que se destaca por inovar com
um modelo de viola dinâmica, uma versão desse instrumento cujo som é mais
volumoso, com timbres metálicos, devido a um tampo de metal. Trata-se de
Luciano Queiroz, artesão que já se formou ciências agrárias em Jaboticabal, mas
optou pelo caminho da arte que traz um gigantesco rastro de história que se
liga às atividades agrícolas. Um percurso, aliás, inverso às tendências que
dominam o campo hoje.
Enquanto
o agronegócio “desruraliza” o campo, a força da cultura caipira se consuma pelas
mãos dos artesãos, como Luciano, que se fortalecem no Vale do Paraíba, no Vale
do Ribeira, no Litoral Sul paulista, além das indústrias Giannini, Xadrez e
Rossini, que mantiveram viva a construção do instrumento enquanto a história da
música do campo se refez nas últimas décadas.
Viola de cabaça usada no trio Tamoyo, feita por Levi RamiroLevi Ramiro e uma de suas criações com cabaças
Teatro municipal de Jaú - SP
Viola confeccionada por Levi Ramiro
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