sexta-feira, 27 de julho de 2012

Artesãos de viola


Quando comecei a estudar viola caipira, há alguns anos, comprei um instrumento  usado confeccionado por uma indústria localizada no interior  estado de São Paulo. Era um bom instrumento para um iniciante, mas o artesão Kléber Silveira, de Avaré, encantou-me com um modelo  pequeno de viola, que ele chamava de catireira.  Aos poucos, fui conhecendo outros modelos do próprio Kléber, o que me levou a descortinar um universo maravilhoso de sonoridades e concepções históricas sobre esse instrumento que está no país desde o século XVI.
Na busca de instrumentos que emitissem sons diferentes, nos últimos anos, tenho feito um mapeamento de artesãos, fabricantes de viola caipira, no estado de São Paulo e tenho ficado surpreso com alguns trabalhos.
No médio Tietê, no município de Pirajuí, tive a oportunidade de conhecer o grande violeiro e artesão Levi Ramiro. Sem dúvida, faz violas convencionais de elevadíssima qualidade, mas não há quem não se espante com a qualidade de suas violas de cabaça.
Subindo o mesmo rio, rumo a Botucatu, encontramos os instrumentos do Soler, as violas de Seu Pedro e, recentemente, apresentou-se à comunidade de violeiros o jovem João Luthier, com suas violas requintadíssimas.
Rio acima, chegando a Tatuí, encontra-se o famoso Joacir, antes sediado em São José do Rio Preto, fabrica as violas mais caras do estado de São Paulo. Um instrumento dele, que demora até seis meses para ser entregue sob encomenda, ultrapassa a casa dos três mil reais.
Seu vizinho, na região de Sorocaba, o luthier Sforcin também não fica atrás no que diz respeito a preço e qualidade. Aliás, Sorocaba é um dos mais importantes pilares da cultura que se vincula a esse instrumento.
As violas Mater, de Amparo, fazem muito sucesso entre os violeiros de Piracicaba graças ao incentivo de lojistas ou de professores, como Rafael Danelon, mas, nessa região, há muita coisa boa de fabricantes de Iracemápolis, Americana e até mesmo  Campinas, que é uma cidade grande, mas mantém vínculos com a cultura rural.
Mais ao sul do estado, em Assis, há um jovem luthier que se destaca por inovar com um modelo de viola dinâmica, uma versão desse instrumento cujo som é mais volumoso, com timbres metálicos, devido a um tampo de metal. Trata-se de Luciano Queiroz, artesão que já se formou ciências agrárias em Jaboticabal, mas optou pelo caminho da arte que traz um gigantesco rastro de história que se liga às atividades agrícolas. Um percurso, aliás, inverso às tendências que dominam o campo hoje.
Enquanto o agronegócio “desruraliza” o campo, a força da cultura caipira se consuma pelas mãos dos artesãos, como Luciano, que se fortalecem no Vale do Paraíba, no Vale do Ribeira, no Litoral Sul paulista, além das indústrias Giannini, Xadrez e Rossini, que mantiveram viva a construção do instrumento enquanto a história da música do campo se refez nas últimas décadas. 
(Fabius) 
Luciano Queiroz e sua viola dinâmica: som alto e "metálico"
                     
                  
                         
                        Viola de cabaça usada no trio Tamoyo, feita por Levi Ramiro


                  Levi Ramiro e uma de suas criações com cabaças
Teatro municipal de Jaú - SP

Viola confeccionada por Levi Ramiro



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