domingo, 15 de julho de 2012

O samba da minha terra


O poeta Vinícius de Moraes já dizia em “Samba da benção”, uma parceria sua com Baden Powell que “o samba nasceu lá na Bahia”. O grandioso Dorival Caymmi também vinculou seu berço baiano com a origem desse gênero musical em inúmeros versos, e um dos mais famosos é aquele que diz: “O samba da minha terra deixa a gente mole / Quando se canta todo mundo bole”.
As comunidades cariocas do samba têm suas razões para dizerem que o samba é uma expressão musical do Rio de Janeiro uma vez que essa música reúne milhões de pessoas naquela cidade durante o Carnaval, considerando o público e os participantes não só no sambódromo, mas também nas manifestações do chamado Carnaval de Rua.
O Rio é de fato um dos mais importantes berços do samba em nosso país, mas, quando se fala em “origem” das coisas, é impressionante ver como os mitos se divulgam e se consolidam na formação da identidade coletiva, já que é muito cômodo não questioná-los e aceitá-los.
Um dos sentidos de samba se busca na evolução da palavra “semba”, do quimbundo, que significa “batida de umbigo”, expressão que também simbolizava antigamente um tipo de dança exercida em senzalas por escravos depois de doloroso dia de trabalho.
Sem dúvida, esse tipo de dança que envolvia batida de umbigo era praticado tanto na Bahia quanto no Rio de Janeiro, mas não se pode negar o prestígio de “berço do samba” a regiões onde também havia imensa concentração de negros, como em Minas Gerais, no Nordeste e também no estado de São Paulo.
Mario de Andrade, na década de 1930, já escrevia sobre o “incerto rebolar de ancas” que o impressionou numa roda de samba rural paulista que, para ele, era muito parecido com o jongo de São Luiz do Paraitinga. Aliás, o autor de Macunaíma mencionou na mesma época o samba rural de Campinas e de Sorocaba.
Os núcleos afro-caipiras de Pirapora do Bom Jesus, de Vinhedo, de Quadra, na região de Tatuí, de várias cidades do Vale do Paraíba e do “Médio Tietê”, como a comunidade do Batuque de Umbigada de Piracicaba, Tietê e Capivari, não deixam a menor dúvida de que o samba não nasceu só na Bahia ou no Rio de Janeiro. Talvez grandes ícones do samba tenham morrido sem saber que o “Samba-lenço”, “Samba de Bumbo”, “Samba de Roda” ou “Samba Rural” e a Umbigada também deixam a gente muito mole quando se canta. Não há como não bulir!
(Fabius)

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