O
poeta Vinícius de Moraes já dizia em “Samba da benção”, uma parceria sua com
Baden Powell que “o samba nasceu lá na Bahia”. O grandioso Dorival Caymmi
também vinculou seu berço baiano com a origem desse gênero musical em inúmeros
versos, e um dos mais famosos é aquele que diz: “O samba da minha terra deixa a
gente mole / Quando se canta todo mundo bole”.
As
comunidades cariocas do samba têm suas razões para dizerem que o samba é uma
expressão musical do Rio de Janeiro uma vez que essa música reúne milhões de
pessoas naquela cidade durante o Carnaval, considerando o público e os
participantes não só no sambódromo, mas também nas manifestações do chamado
Carnaval de Rua.
O
Rio é de fato um dos mais importantes berços do samba em nosso país, mas,
quando se fala em “origem” das coisas, é impressionante ver como os mitos se
divulgam e se consolidam na formação da identidade coletiva, já que é muito
cômodo não questioná-los e aceitá-los.
Um
dos sentidos de samba se busca na evolução da palavra “semba”, do quimbundo,
que significa “batida de umbigo”, expressão que também simbolizava antigamente
um tipo de dança exercida em senzalas por escravos depois de doloroso dia de trabalho.
Sem
dúvida, esse tipo de dança que envolvia batida de umbigo era praticado tanto na
Bahia quanto no Rio de Janeiro, mas não se pode negar o prestígio de “berço do
samba” a regiões onde também havia imensa concentração de negros, como em Minas
Gerais, no Nordeste e também no estado de São Paulo.
Mario
de Andrade, na década de 1930, já escrevia sobre o “incerto rebolar de ancas”
que o impressionou numa roda de samba rural paulista que, para ele, era muito
parecido com o jongo de São Luiz do Paraitinga. Aliás, o autor de Macunaíma
mencionou na mesma época o samba rural de Campinas e de Sorocaba.
Os
núcleos afro-caipiras de Pirapora do Bom Jesus, de Vinhedo, de Quadra, na
região de Tatuí, de várias cidades do Vale do Paraíba e do “Médio Tietê”, como
a comunidade do Batuque de Umbigada de Piracicaba, Tietê e Capivari, não deixam
a menor dúvida de que o samba não nasceu só na Bahia ou no Rio de Janeiro. Talvez
grandes ícones do samba tenham morrido sem saber que o “Samba-lenço”, “Samba de
Bumbo”, “Samba de Roda” ou “Samba Rural” e a Umbigada também deixam a gente
muito mole quando se canta. Não há como não bulir!
(Fabius)
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